sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Será possível a previsão de terremotos?

   Como todo cientista é movido a desafios, os investigadores peruanos do Instituto de Radioastronomia da Pontifícia Universidade Católica do Peru participam de um projeto global junto com os Estados Unidos, Taiwan, Grécia, dentre outros, para a criação de um sistema que detecte com precisão a frequência e magnitude dos sismos.
   O estudo da atuação do "inimigo silencioso", como descrevi na postagem anterior, onde relatei um pouco da experiência que tive na província de Chincha, uma das regiões conhecidas como sísmicas, e acrescentei que todos os fenômenos naturais dão um aviso quando vão manisfestar-se, menos o terremoto; agora dá esperanças sobre a possibilidade de prevenção de um grande desastre como o terremoto de 2007 que deixou um saldo de 513 mortos no Peru.
   Mas não é de agora que os cientistas peruanos estão concentrados no tema. Desde o ano de 2009 um projeto chamado "Perú Magneto" investiga fenômenos que se produzem antes e durante os tremores através de um equipamento chamado magnetômetro que tem a função de medir a intensidade, direção e sentido dos campos magnéticos e é muito utilizado em estudos da geofísica ligados ao campo magnético terrestre.
   Os primeiros aparelhos utilizados aqui foram doados pela Quaker Finder da Califórnia - grupo religioso também conhecido como Sociedade Religiosa dos Amigos, que prega o pacifismo e a ação social, sendo criadores de grupos como o Greenpeace.
   Devido a frequência que este fenômeno natural ocorre na região, os especialistas peruanos têm uma larga experiência sobre o assunto.
   No entanto, segundo o diretor do Instituto de Radioastronomia (Inras) Jorge Heraud em entrevista ao jornal peruano "El comercio", infelizmente, estes aparelhos não podem determinar o lugar exato onde se produzirão os abalos.
   Heraud busca discrição. "Não é prudente dizer que estamos perto de detectar os sismos." E acrescenta: "avançamos na produção do conhecimento que ajudaria a prevê-los e, para isso, continuamos investigando."
   Na verdade, o diretor do Inras é bem cauteloso em relação às especulações, mas acaba revelando: "de maneira interna temos obtido resultados positivos de detecção, mas como estamos em um processo de investigação, não podemos revelá-los até concluir este trabalho científico."
   Toda nação peruana está na torcida para que as investigações avancem com sucesso. E não só o Peru, mas todos os países que convivem com o mesmo problema.
   Os magnetômetros possuem valor aproximado a 50 mil dólares e estão instalados em Huranjapo (Chincha), Los Palos, Pocollay e Ite (Tacna) e Fazenda Biondi (Moquegua).
   Um novo aparelho está previsto para ser instalado na cidade de Ica, onde ocorreu o último abalo sísmico de 6.3 graus na escala Ritcher.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

A força da sociedade peruana.

 No segundo dia desta semana tive mais uma experiência com os tremores de terra que são bem comuns nas zonas sísmicas do Peru.  Continua sendo espantoso para quem não cresceu vivenciando o fenômeno ter que lidar com ele com a mesma naturalidade de quem entende que isso é uma realidade constante desta região.
   Minutos depois do sismo da segunda-feira, pude observar algumas pessoas escutando música em alto volume para garantir que o vizinho não durma nestes momentos e não seja surpreendido por um terremoto no meio do sono da madrugada. 
   Recordo o primeiro abalo sísmico que senti, depois de tantas histórias que tinha escutado - é bom lembrar que uma coisa é ouvir falar, outra coisa é estar no local no momento em que ele acontece - e passei a enxergar o povo peruano como uma fortaleza porque, horas depois, as pessoas seguem normalmente as suas vidas, saem para o trabalho, levam os filhos para a escola, como se nada tivesse acontecido.    
   Mas só Deus sabe como estará a cabeça desta pessoa que deixou em casa seus familiares depois dos abalos de terra.
   Estive abrigada debaixo das colunas da sala do apartamento onde vivo, numa região conhecida como sísmica. Não sabia se corria para a rua como todos os moradores dos apartamentos estavam fazendo ou se permanecia “aparentemente segura” onde eu estava.
   Na verdade, depois do último terremoto de 2007, poucos se arriscam a ficar dentro de casa e morrer soterrados. Seguem para a rua, alguns levando uma mochila contendo água, casaco, lanterna e algum alimento que necessitarão caso o terremoto dure muito tempo.
   Como devem reagir e o que devem levar são instruções passadas nos veículos de comunicação, educado nas escolas e repassado pelos familiares, pais e amigos.
   Até uma criança aqui sabe como reagir nestes casos, mas eu desconhecia.
   Pode parecer exagero para quem nunca passou por algo semelhante a esta realidade. Mas, quem quiser viver por aqui, precisa logo entender estas coisas.
   Enchentes são previsíveis por densas camadas de nuvens, os tornados, com os câmbios climáticos; os vulcões avisam sua erupção com a explosão inicial de vapores, todos estes fenômenos dão um aviso que estarão a manifestar-se. Mas o terremoto, não.
  Não tem hora para acontecer, não se sabe quanto tempo vai durar e nem qual será a sua intensidade. Os vizinhos me olhavam da rua, através da janela da sala do apartamento onde eu estava imóvel sob a coluna, e acredito que pensavam: “o que ela ainda está fazendo aí? Por que não desce?”
   É uma experiência inesquecível.
   Tive a oportunidade de entrar em uma delegacia em uma área que foi bem atingida pelo último terremoto de 15 de Agosto de 2007. A catástrofe deixou o índice de 513 mortos, saldo de um dos mais violentos terremotos ocorridos no Peru nos últimos anos.
   A província de Pisco até hoje não se levantou totalmente depois do ocorrido e pude observar, nas paredes do departamento policial, fotos de dezenas de corpos trazidos à praça pelos agentes policiais para contagem de mortos.
   As imagens são bem impactantes, mas trata-se de um momento que a sociedade peruana faz questão de não esquecer para educar os filhos a estar sempre atentos ao inimigo silencioso.
   E o sismo desta segunda-feira, com intensidade de 6.3 graus na escala Ritcher, despertou os moradores da cidade de Ica às 0 h. e 11 min., deixando cento e cinquenta pessoas levemente feridas. O presidente Ollanta Humala, acompanhado da primeira dama, visitaram a cidade para avaliar os danos e reunir-se com as autoridades locais para prestar assistência às famílias.
   Apesar de tantas dificuldades, ser reconhecido como um povo alegre, hospitaleiro, dono de uma rica diversidade culinária, determinado e trabalhador, é admirável.
   São coisas que não dá para serem analisadas com um simples olhar literário,  só estando perto da população peruana para reconhecer a sua grandeza.
 

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Aprendendo a dar mais valor a prevenção, depois de sofrer o acidente.

Nada melhor do que aprender com os nossos próprios erros, principalmente porque isto significa que a falha cometida não foi fatal. Mas, nem sempre todos têm a segunda chance para fazer as coisas direito.
   Confesso que só usava cinto de segurança nos veículos porque era obrigatório e eu não queria prejudicar o condutor, meu amigo, com uma multa de trânsito seguida de pontos na carteira de habilitação.   Do ponto de vista racional, sabemos que esta atitude pode salvar nossas vidas, mas, numa visão geral, e tentando nos livrar dos maus pensamentos, preferimos imaginar que os acidentes nunca vão acontecer conosco.

   Tudo começou quando estava saíndo de casa para uma entrevista de emprego e aproveitei a carona do meu esposo que estava indo para o trabalho. Tomamos  o veículo com um jovem que dirigia apressadamente para o nosso destino e não havia nenhum cinto de segurança nos bancos traseiros.
   Estávamos conversando e confiando no condutor até que ele atravessou um cruzamento com o semáforo apresentando-se vermelho para nós. Em seguida, vi um carro branco que atravessou repentinamente o nosso caminho e tentei proteger o meu rosto com os braços. 
   Antes que desse tempo de levantá-los, o meu rosto já havia se chocado na grade de ferro que separa os passageiros do condutor - modelo típico de algumas pequenas carruagens com capacidade para três pessoas chamadas "mototáxis", que trafegam nas províncias do Peru - e o meu corpo já havia retornado ao banco.
   Seria uma quarta-feira comum se eu não estivesse vendo um acidente acontecer comigo no papel de vítima e não de leitora ou observadora, presenciando o momento em que o condutor se arrasta para o asfalto como um lagarto, sem forças para ficar de pé.
   Passei a mão no nariz para conferir se eu ainda possuía um, mas, graças a Deus, ele ainda estava ali.
   Além do meu nariz, minhas mãos puderam sentir o sangue escorrer pelo meu rosto e logo fui despertada do transe pela voz do meu esposo perguntando se eu estava bem.
   Ele me conduziu rapidamente para fora do moto-táxi e seguimos em outro veículo para uma emergência. Impressionante como outros veículos tem resistência em levar um ferido para um hospital, mas Deus sempre envia os seus anjos.
   Ganhei, neste dia, um corte superficial na parte superior do nariz,  inchação e arroxeamento na face - nas partes que sofreram a pancada na grade - e um arranhão. Também uma suspeita de fratura nasal a ser confirmada depois de dois dias de antibióticos injetáveis e nova realização de Raio X.
   Na saída da emergência, tomamos um táxi de verdade. E, para nossa surpresa, o cinto de segurança do banco traseiro estava quebrado.
   Agora, mais do que antes, percebo como faz diferença uma boa fiscalização de trânsito e multas severas para os veículos que não estão com todos os equipamento de segurança em ordem. Também multando quando os passageiros não seguem as normas de segurança de trânsito.
   Há ainda muitas pessoas que reclamam dizendo que as leis de trânsito são radicais e as multas, um abuso de autoridade.
   Mas, principalmente quando passamos por uma trágica situação, nos damos conta que as leis não foram criadas por acaso e muitos só mudam de atitude quando sentem as consequências no próprio bolso. São estas leis que nos salvam a vida e, também, das pessoas que amamos.
   As rígidas leis diminuíram o número de mortes e acidentes de trânsito em vários países do mundo, além de impedir que muitas pessoas fiquem incapazes para o resto de suas vidas depois do impacto.
   É bom pensar nisso enquanto temos chance. O momento do acidente é imprevisível e rápido demais, muitas vezes, sem oportunidade de mudar de atitude.
Um pouco de realidade e uma boa dose de precaução pode mudar o destino de muita gente.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Quem é o homem mais famoso que o presidente da república?

Durante grande parte da minha vida eu tinha uma dúvida persistente quando o tema era política: o que faz o vice-presidente de uma nação?  Ficava imaginando o homem ali, tranquilo, no cargo político, recebendo um bom salário (paga-se mensalmente ao presidente do Brasil e ao vice, desde 2010, a quantia de R$ 26.723,13) para rezar todos os dias para o líder máximo do Estado não ter nenhum problema durante os quatros anos de mandato e que seja reeleito, para o vice continuar a fazer o que já vinha fazendo.
   Mas, o que faz mesmo o vice-presidente?
   Bom, o que a literatura ensina é que o titular deste cargo público tem função de substituir o governante do país quando o líder precise viajar para o exterior, decida renunciar o cargo, por motivo de morte ou quando é destituído do cargo por um processo de impeachment como ocorreu com um famoso ex-presidente brasileiro, Fernando Collor de Mello.
   Também deve dar conselhos ao governante maior, mas só falar quando for chamado.
   Ou seja, na grande maioria dos casos o vice-presidente permanecerá sendo só um vice-presidente: não terá poder de assinar nada com poder de decreto, não irá aparecer na mídia, poucas pessoas saberão seu nome e dificilmente será importunado. O homem será um completo biscuit – aqueles enfeites de porcelana com a única finalidade de permanecer imóvel num determinado ambiente. E claro, neste caso, ganhando esplendidamente bem por isso.
   Inúmeras pessoas almejariam esta vida de super remuneração e praticamente total anonimato, exceto o vice-presidente do Peru Omar Chehade.
   É a primeira vez na história que um vice-presidente é mais falado do que o próprio presidente da república e não é por um curto espaço de tempo que isso acontece. O ano de 2011 terminou falando nele e 2012 tem o nome “Chehade” repetido várias vezes nos noticiários das grandes emissoras de televisão.

   Ele foi acusado por vários delitos, entre eles corrupção ativa e tráfico de influências. Sentindo que seria destituído do cargo, apresentou uma carta de renúncia dizendo-se inocente, mas que não queria ser "um fator de perturbação para o presidente, nem para o governo."
   "Este escândalo afetou minha família", informou.
   É notório que a população gostaria de ter um vice-presidente que trabalhasse mais e fizesse jus ao generoso salário que recebe, mas, se for para atuar trazendo mais corrupção para o parlamento que já anda um tanto desacreditado, é melhor pensar direito senhores futuros candidatos ao cargo: até que não é má idéia ser biscuit.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Assalto: Vale a pena reagir?!

Depois de alguns meses de ausência, retorno as postagens para discutir um assunto que está literalmente, “bombando” na mídia peruana todos os dias desta semama.  A história do estudante de 21 anos que foi preso por matar um dos assaltantes que tentava levar-lhe o celular. 
   Tudo começou numa terça-feira (10/01) quando Gastón Mansilla foi ameaçado com facas por Víctor Ríos Acevedo, 43 anos, e Christian Arenas Perona, 33 anos, após sair da universidade.
   Gastón sacou um revolver e disparou no peito de Ríos, mais conhecido como“niño viejo” , que morreu  no local.
   Após o ocorrido, a polícia capturou o cúmplice de Acevedo e o Terceiro Tribunal Penal de Lima emitiu ordem de prisão ao estudante que seguiu para a cadeia.
    O caso do jovem que perdeu a liberdade por matar em legítima defesa,  rendeu manchetes nos jornais, espaço nos noticiários e destaque nos debates televisivos.
   Movimentos de protesto contra a prisão de Mansilla ganhou forças e conquistou a opinião pública, alguns ministros decidiram interceder pelo universitário, até que ele foi libertado nesta sexta-feira (13).
   O fato que parece um novo conto de terror para os peruanos, infelizmente é bem comum para os que vivem em países de alto índice de violência. E aquilo que pode parecer um bote salva vidas para combater a violência – o armamento - geralmente se transforma no fermento para aumentar o problema.
   Se alguém pensa que reagir ao assalto inibe o ladrão, engana-se. 
   Basta abrir os jornais para ler inúmeros casos de pessoas que morrem por causa de um tênis, por um celular.   
   Antes mesmo que tenha a oportunidade de reagir, os delinqüentes matam a vítima e  levam os pertences que ela poderia estar disposta a arriscar a vida para salvar. 
   O ladrão bem informado já não irá assaltar o estudante Gastón com uma faca, o sujeito virá com um revolver.  Não pense que são pessoas que não possuem capacidade criativa: são super astutos quando se trata de ganhar vantagem da inocência alheia. Eles têm medo de morrer e não medem distância se for preciso matar.
   Como não é novidade, provavelmente a arma legal será levada por alguém ilegal para a prática de mais crimes. Se a pessoa que tentou se defender com o revolver não morreu e nem foi acusada por um crime que não cometeu, agradeça a Deus.
   Vejo a situação como uma boa oportunidade para dizer: se você não é das forças armadas, nem faz parte de alguma equipe treinada de segurança, pelo bem da nação, não faça previsão da sua personalidade diante do caos - não carregue uma arma.
   A tua vida é um bem precioso que os teus familiares e amigos não querem perder, então, faça o possível: chegue em casa sem tênis, sem celular, mas chegue vivo.