quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

A força da sociedade peruana.

 No segundo dia desta semana tive mais uma experiência com os tremores de terra que são bem comuns nas zonas sísmicas do Peru.  Continua sendo espantoso para quem não cresceu vivenciando o fenômeno ter que lidar com ele com a mesma naturalidade de quem entende que isso é uma realidade constante desta região.
   Minutos depois do sismo da segunda-feira, pude observar algumas pessoas escutando música em alto volume para garantir que o vizinho não durma nestes momentos e não seja surpreendido por um terremoto no meio do sono da madrugada. 
   Recordo o primeiro abalo sísmico que senti, depois de tantas histórias que tinha escutado - é bom lembrar que uma coisa é ouvir falar, outra coisa é estar no local no momento em que ele acontece - e passei a enxergar o povo peruano como uma fortaleza porque, horas depois, as pessoas seguem normalmente as suas vidas, saem para o trabalho, levam os filhos para a escola, como se nada tivesse acontecido.    
   Mas só Deus sabe como estará a cabeça desta pessoa que deixou em casa seus familiares depois dos abalos de terra.
   Estive abrigada debaixo das colunas da sala do apartamento onde vivo, numa região conhecida como sísmica. Não sabia se corria para a rua como todos os moradores dos apartamentos estavam fazendo ou se permanecia “aparentemente segura” onde eu estava.
   Na verdade, depois do último terremoto de 2007, poucos se arriscam a ficar dentro de casa e morrer soterrados. Seguem para a rua, alguns levando uma mochila contendo água, casaco, lanterna e algum alimento que necessitarão caso o terremoto dure muito tempo.
   Como devem reagir e o que devem levar são instruções passadas nos veículos de comunicação, educado nas escolas e repassado pelos familiares, pais e amigos.
   Até uma criança aqui sabe como reagir nestes casos, mas eu desconhecia.
   Pode parecer exagero para quem nunca passou por algo semelhante a esta realidade. Mas, quem quiser viver por aqui, precisa logo entender estas coisas.
   Enchentes são previsíveis por densas camadas de nuvens, os tornados, com os câmbios climáticos; os vulcões avisam sua erupção com a explosão inicial de vapores, todos estes fenômenos dão um aviso que estarão a manifestar-se. Mas o terremoto, não.
  Não tem hora para acontecer, não se sabe quanto tempo vai durar e nem qual será a sua intensidade. Os vizinhos me olhavam da rua, através da janela da sala do apartamento onde eu estava imóvel sob a coluna, e acredito que pensavam: “o que ela ainda está fazendo aí? Por que não desce?”
   É uma experiência inesquecível.
   Tive a oportunidade de entrar em uma delegacia em uma área que foi bem atingida pelo último terremoto de 15 de Agosto de 2007. A catástrofe deixou o índice de 513 mortos, saldo de um dos mais violentos terremotos ocorridos no Peru nos últimos anos.
   A província de Pisco até hoje não se levantou totalmente depois do ocorrido e pude observar, nas paredes do departamento policial, fotos de dezenas de corpos trazidos à praça pelos agentes policiais para contagem de mortos.
   As imagens são bem impactantes, mas trata-se de um momento que a sociedade peruana faz questão de não esquecer para educar os filhos a estar sempre atentos ao inimigo silencioso.
   E o sismo desta segunda-feira, com intensidade de 6.3 graus na escala Ritcher, despertou os moradores da cidade de Ica às 0 h. e 11 min., deixando cento e cinquenta pessoas levemente feridas. O presidente Ollanta Humala, acompanhado da primeira dama, visitaram a cidade para avaliar os danos e reunir-se com as autoridades locais para prestar assistência às famílias.
   Apesar de tantas dificuldades, ser reconhecido como um povo alegre, hospitaleiro, dono de uma rica diversidade culinária, determinado e trabalhador, é admirável.
   São coisas que não dá para serem analisadas com um simples olhar literário,  só estando perto da população peruana para reconhecer a sua grandeza.